Archive for the ‘ Entrevistas ’ Category

ENTREVISTA COM ANDRÉ ALVES (NITROMINDS, MUSICA DIABLO)


Veteranos do Hardcore Nacional, o Nitrominds anunciou recentemente o fim de suas atividades. Muitas perguntas ficaram no ar sobre este fim inesperado, sobre o futuro da banda, entre outros questionamentos. Batemos um papo com André Alves (vocalista e guitarrista da banda) sobre o futuro do Nitrominds, a relação entre os integrantes, Música Diablo, projetos futuros e muito mais. Confiram a entrevista logo abaixo:

Monophono: O Nitrominds completou em 2012 18 anos de estrada, logo após o lançamento do excelente álbum “LOOKING FOR A HERO”.  Recentemente os fãs da banda foram surpreendidos pela notícia do encerramento das atividades do Nitrominds. Qual foi o motivo causador deste término inesperado?
André:
 Antes de mais nada eu queria agradecer todas as mensagens de fans no meu (nosso) facebook quando a banda acabou, isso prova muita coisa.  Cara, eu não estava mais feliz com o andamento das coisas, tanto com a banda, tanto com a cena em q estávamos envolvidos, depois de passar por tudo que passei em 18 anos, resolvi sair fora. Não foi fácil tomar essa decisão, confesso que ja vinha adiando há um tempo, talvez desde 2009, depois da nossa tour na Europa do “Verge of collapse”.”Llooking for a Hero” é um puta disco eu posso dizer, pelo menos a banda acabou com um disco decente na praça, demoramos pra lançar ele, porque antes veio o disco de covers “Kill Emo All”, ele foi feito com muito apreço. gostei de ter feito, acho que ele tem umas músicas fudidas e ainda mais a participação do Tony Cadena ( The Adolescents) em duas delas, que foi uma puta honra.

Monophono: Após o fim da banda, como ficou a relação entre os integrantes?
André:
A separação foi meio tranquila até, ainda nos vemos toda semana para tomar uma cerva, mas não tocamos no assunto nitrominds. acho que é melhor assim, cada um pensa de uma maneira sobre o fim das atividades.

Monophono: Existem planos de um possível retorno da banda ou o futuro do Nitrominds ainda é incerto?
André:
Totalmente incerto.

Monophono: Um extenso currículo dentro do Hardcore, vários álbuns lançados, turnês, diversos shows pelo Brasil, amizades e inimizades, momentos difíceis e acima de tudo, satisfações. Em 18 anos de Nitrominds, eu gostaria de saber se você faria tudo de novo ou se tem algo que você se arrepende de ter feito?
André: E
u realmente não sei, talvez eu faria, talvez não, um fato que sempre me incomodou no Nitrominds foi que eu tive q assumir o lugar do Ricardo nos vocais quando ele saiu fora, talvez teria sido mais acertado acabar com a banda naquele momento. De outra forma, se isso tivesse acontecido a gente nunca teria feito tudo o q fizemos, foram 14 tours na gringa, uma penca de shows no brasil, televisão, matérias, etc, etc. O melhor de tudo isso foi conhecer todo mundo que eu conheço hoje, de público e bandas, pessoas que viraram amigos próximos, e isso não tem preço, eu (nós) posso ir pra qualquer lugar fora do Brasil e não pagar um centavo de hospedagem, porque sei que essas pessoas terão o maior prazer em hospedar qualquer um da banda, pela nossa amizade e pelo respeito que criamos em cima do nosso nome.

Monophono: Vocês possuem algum material inédito que ainda poderá ser lançado? Eu inclusive adoraria ver o último álbum lançado em vinil 12″.
André:
Estava negociando isso para a próxima tour na Europa, porém isso estava cada vez mais em segundo plano, a banda acabou, e eu duvido que alguem se interesse por isso. Nós temos muitas imagens, isso sim, e estamos começando a compilar isso para um DVD.

Monophono: Com a saída de Derrick Green no ano passado, seu outro projeto (Musica Diablo) que conta com 2/3 do Nitrominds, ainda terá uma sequência?Há previsão de lançamento de um novo álbum e inclusão de um novo vocalista?
André: 
Nós mandamos o Derrick embora, essa q foi a verdade, as coisas foram se complicando, a certo dia, nós vimos algumas declarações dele na midia e acabamos chamando ele de volta, coisa que ele aceitou de primeira. Porém com o Sepultura tocando por ai, a gente está na geladeira, uma por causa dele, e outra por minha culpa mesmo, eu não tenho mais vontade de tocar guitarra e afins, acho que eu preciso de um longo tempo pra assimilar tudo. Confesso que ando muito cansado de tudo e tocar nesse momento não me ajuda em muita coisa.

O MD foi uma banda que começou de brincadeira e que tomou proporções que nenhum dos integrantes imaginava. Formei o MD em 2008 e em menos de 2 anos, a gente tinha um empresário na gringa, contrato com gravadora, fizemos uma tour pela europa e tocamos nos festivais mais importantes do Brasil, tudo isso sem cair a frequência de shows e divulgação do Nitrominds,  trabalho pra caralho, fora tudo isso ainda trabalho de tour manager pra duas agências entre outras coisas.

Monophono: Enquanto o som do Nitrominds na sua grande maioria tem uma tendência musical voltada pro hardcore, o Musica Diablo é nitidamente voltado para um som mais extremo. Toda essa miscelânia é oriunda de gostos musicais adquirido por seus respectivos músicos ao longo dos anos. O que você tem ouvido últimamente?
André: 
Nós crescemos ouvindo punk e metal, eu amo metal como eu amo o punk rock, quando eu cresci eu ouvia GBH e Metallica, English Dogs e Slayer, pra mim era tudo a mesma merda. Ouço sempre a mesma coisa, não tem nada de novo que chame a minha atenção, Ac/Dc é  banda que eu nunca vou parar de ouvir, como o metallica antigo, como também o Good Riddance, Propagandhi e afins.

Monophono: Grande parte da sua vida foi dedicada de de alguma forma à música. Hoje seu trabalho é acompanhar bandas nacionais e internacionais, dando um suporte às turnês (tour manager, stage manager). Conte-nos um pouco sobre como funciona este trabalho e como tem sido essa experiência de contato com bandas que muitas vezes você ouvia quando era mais novo.
André: 
Pô, isso é muito legal, as vezes muito chato também, as vezes bandas que eu gostava pra caralho, passo a odiar, porque os caras são uns cuzões. Eu sou contratado como Tour Manager de duas agências: Webrockers que traz os mais pops e também muito punk rock e da Tumba Produções, que só traz metal do mal. Eu faço toda pré-produção dessas tours, sou responsável até pelo clip de papel que o cara vai usar , saca? tudo mesmo e viajo com eles para os shows, ou seja eu sou o produtor pau no cu muitas vezes.Fora isso eu também sou o produtor do Ratos de Porão quando tenho finais de semana livres, eles são a única banda nacional que eu faço. Cai nessa de gaiato, eu ja fazia pro nitrominds e pras bandas que eu trazia ao Brasil, em 2008, eu estava muito sem grana e precisando de um bico, um amigo me indicou  e eu trabalhei como Roadie no Orloff Music com o Hives, Melvins etc, na sequência com o The Cult e assim foi indo, de roadie fui pra Stage Manager, de SM fui pra Tour Manager, e assim vai indo…

Monophono: Quais são os planos para este segundo semestre e início de 2013?
André:
Eu estou montando o meu estúdio de ensaio em Santo André|SP, comprando equipamentos, vamos ver se até o ano que vem ele esta pronto.

Monophono: Obrigado André pela entrevista e pelo tempo disponibilizado para as respostas. O espaço agora é seu:
André:
Obrigado pelo espaço, só quero dizer que o Nitrominds não está morto, nossa música ainda vive, sempre que possível eu posto alguma coisa no Facebook da banda e em breve vamos lançar um dvd com as nossas histórias, videos de tournês, etc. Fiquem ligados. Abraços a todos.

Fotos por Vinicius Paes | Monophono

17 PERSONALIDADES (NACIONAIS E INTERNACIONAIS) LIGADAS À MÚSICA ELEGEM O MELHOR ROCK DE TODOS OS TEMPOS | PARTE 1


Em comemoração ao dia mundial do rock o Monophono entrou em contato com algumas personalidades envolvidas direta ou indiretamente com a música para eleger na opinião de cada uma delas o melhor rock de todos os tempos (música e banda), que representaria fielmente o dia 13 de julho, além de questionarmos também o porque dessa escolha. Uma tarefa quase impossível, que pode ser conferida logo abaixo:

Marcelo Viegas (Editor CemporcentoSKATE | Zinismo)

Essa é uma pergunta impossível de responder (pelo fato de ter que escolher apenas uma canção/banda) e que sempre levará mais em conta o pessoal do que o universal. “O melhor rock pra mim” é a resposta que você vai receber sempre. Então, mais como simbolismo do que como escolha definitiva, eu diria que “Rock For Light“, do Bad Brains, é uma boa pedida. Sem o rock não existiria o punk; sem o punk não existiria o hardcore; e sem o Bad Brains o hardcore não seria o mesmo, em vários sentidos. Com mensagem, atitude, técnica, agressividade, postura e um som fantástico, o Bad Brains cravou seu nome na história do rock. Até hoje,  30 anos depois, “Rock For Light” (ou qualquer outra faixa do disco de mesmo nome) desperta uma vontade incontrolável de afastar o sofá, aumentar o som e pular feito um doido pela sala. Se isso não representa bem o rock, então não sei o que poderia representar…
Mais sobre o trabalho de Marcelo Viegas aqui e aqui.

Mario Bross (Wry | Asteroid Bar)

We Will Rock You” do Queen representa muito bem o Dia Mundial do Rock já que começou-se a comemorar esse dia à partir do dia 13 de Julho de 1985 no festival Live Aid organizado por Bob Geldof. Queen estava lá e foi um dos maiores destaques. Dividiu o palco com grandes nomes como U2, revelação na época, Led Zeppelin e David Bowie.
Mais sobre o trabalho de Mario Bross aqui e aqui.

Austin Lucas (Músico | EUA)

O melhor rock de todos os tempos, para mim sempre vai ser o X. Eu penso que a música deles vai perfeitamente em qualquer hora do dia. Eu continuo ouvindo eles e não consigo acreditar na banda incrível que eles são… Eu acho que a minha musica favorita deles é provavelmente, “The Unheard Music“.
Mais sobre o trabalho de Austin Lucas aqui.

Felipe Gasnier (Ideal Shop | Edições Ideal | Ideal Records)

Em um país do samba, axé e Valesca Popozuda, poder comemorar o dia do rock é de dar orgulho a nós cabeludos. O Rock, ao meu ver  é nosso Deus e suas vertentes são as religiões, como o hardcore, punk, hardrock, metal, grind e por ai em diante. Cada qual tem a sua música e banda que mais marcou época e diferentes estilos de vida. Então, seguindo esta lógica eu diria que o Black Sabbath é Deus, Ozzy é Jesus e a música Paranoid representa os mandamentos que devemos seguir. O resto, é RESTO! Um brinde ao ROOOCK! Xilip 666.
Mais sobre o trabalho de Felipe Gasnier aqui e aqui.

Regis Damasceno (Cidadão Instigado | The Mockers)

Eu votaria em ‘(I can’t get no) Satisfaction“, Rolling Stones, riff básico e primal.
Mais sobre o trabalho de Régis Damasceno aqui e aqui.

Ulysses Christianini (Pisces Records | Pisces Virtual)

Smells Like Teen Spirit” – Nirvana. Pode até parecer clichê, mas com esta música e o álbum “Nevermind” e claro com a postura do Kurt de apoiar as bandas independentes, que tive a inspiração de abrir um selo e estar no meio participando da cena independente a mais de 15 anos!
Mais sobre o trabalho de Ulysses Christianini aqui.

Juninho Sangiorgio (Discarga | Ratos de Porão | O Inimigo)

Minha escolha vai para o melhor cantor de rock da história, Little Richard, música “Jenny Jenny“. O cara era preto, gay, cantava rock numa das piores épocas de racismo nos EUA e disparado é a maior influência para a música rock do mundo. A música “Jenny Jenny” foi um hit, assim como muitos sons deles, mas essa é especial porque o Tião Macalé a canta num quadro clássico dos trapalhões, a pindureta!! valeu!.
Mais sobre o trabalho de Juninho Sangiorgio clique aqui, aqui e aqui.

Fabio Mozine (Mukeka di Rato | Merda | Os Pedrero)

Música: “Meus Olhos Estão Chorando“. Cantor: Adelino Nascimento. São os mesmo 3 acordes que foram usados pelos Ramones, porém numa visão seresta, letra sincera e reta, vocal real, afinado, lindo, esse é o melhor rock que eu ja ouvi.
Mais sobre o trabalho de Fabio Mozine aqui.

Parte 1 | Parte 2

CONJUNTO DE MUSICA ROCK MERDA ANUNCIA TURNÊ PELOS USA | CONFIRA ENTREVISTA COM FABIO MOZINE

O conjunto de música rock Merda anunciou recentemente uma turnê americana de divulgação do novo disco, que acontece entre os dias 25 de agosto e 02 de setembro. Intitulado “Indio Cocalero“, o novo álbum tem previsão de lançamento para agosto de 2012 via Laja Records em CD e via Give Praise (selo americano) em vinil 12″. Outro lançamento da banda previsto para a turnê é uma coletânea em fita K7 intitulada “Greatest Shit Vol 1“.
O Monophono conversou com Fabio Mozine (um dos mentores por trás de toda essa Merda) a respeito das expectativas desta turnê, sobre as novidades do novo álbum, DVD, Vinil, Indio e muito mais. Confiram abaixo:

Monophono: O novo álbum do Merda, intitulado Indio Cocalero, será lançado em vinil 12″ via Give Praise nos EUA no mês de Agosto, coincidindo com a ida da banda em território americano. A turnê surgiu a convite da gravadora ou foi através de contatos com outras bandas de lá?
Fabio Mozine:
Rapaz, tudo ao mesmo tempo agora. Na verdade o álbum também está sendo lançado pela laja records, só que a prensagem esta sendo feita nos EUA. Além da give praise, temos nesse algum mais dois selos, o SPHC que é o selo do nosso tour manager la, o Dan, e o selo do Peter Azen, um amigo carioca doido que mora nos EUA, já trampou na troma, caralho a 4, esse bicho, é um dos mentores da tour. Nos infernizou até que eu, consegui convencer os outros dois meninos da banda a tirar o visto. Ai estamos tentando fazer tudo coincidir pra ficar bonito e ser uma grande festa, afinal, estamos indo passear.

Monophono: Alguma banda americana acompanhará o Merda durante a turnê?
Fabio Mozine: Não. Mas sei de alguns nomes legais que estão sendo cogitados para tocar nos shows. Mas pelo que eu sei também, alguns desses shows ainda terão seus detalhes confirmados mais pela frente, por isso que não tenho muita informação ainda.

Monophono: Como surgiu o nome do álbum Indio Cocalero?
Fabio Mozine:
Estava com minha namorada perambulando por Uruguai e Argentina, numas rodoviárias, perto do cais do porto, quando vimos um figurásso, um cara meio boliviano, tipo um indião cocalero, que nos cumprimentou, etc. Ai ela passou a me chamar de índio cocalero e tudo era índio cocalero pra cá, índio pra la, e ai falei pra ela que ia fazer um disco do merda com esse nome, e ali mesmo já fiz a “melodia” RISOS, da musica. Mas obviamente que depois direcionamos para uma outra tendência o titulo, a letra da musica a capa e outras músicas do disco. Assim como o Merda já fez em outros discos, todas as musicas são mais ou menos relacionadas. Eu não diria um disco temático, mas um disco uniforme. E foi assim que tudo começou, da mesma forma que geralmente começa tudo que fazemos, com brincadeira, jargões nossos, observando as coisas na rua, etc .

Monophono: Podemos esperar algum fruto desta turnê como o lançamento de um novo livro ou mesmo um DVD?
Fabio Mozine:
O tal Peter Ezen que citei ali em cima é desse tipo que fica filmando as coisas, diretor, fazendo DVDs, etc. A nossa idéia é lançar sim um DVD da tour dirigido por ele, que vai nos acompanhar e filmar tudinho, mas não sabemos a dimensão que isso poderá ter. Se será um DVD bem feito tipo o broken brazilian, um doc mesmo, com capa, legenda, menu, etc, ou se será algo mais na linha do Kusotare (Merda no Japão) que eu chamo de DVDs Piratas oficiais da Laja, ou seja, poucas copias, com a edição mais largada, etc.

Monophono: Pra vocês o álbum Indio Cocalero marca uma fase mais madura da banda e talvez a mais importante até o momento ou é só mais um disco do Merda?
Fabio Mozine:
É só mais um disco do Merda. Obvio que eu acho legal pra kct, acho as melhores músicas, melhores letras, etc, mas isso é completamente normal, tipo, eu sempre acho o melhor álbum, o último. Mas não posso negar que é um disco que teve uma mega produção em todos os mínimos detalhes. A capa foi feita, refeita e corrigida mil vezes, testamos cores, estilos, logos, na gravação testamos mil microfones, coisa chata mesmo, mudava coisa que já estava pronta, fizemos os vocais varias vezes, diversos convidados, coro de mulheres, saxofonista, bicho, uma doidera velho! E foi tudo feito com muito carinho, mas geralmente a gente tem feito todos nossos trabalhos dessa forma, por isso temos ainda algum público hehehe.

Monophono: Por fim, poderemos encontrar esta obra de arte da música rock contemporânea a venda em vinil 12″ aqui no Brasil via Laja Records?
Fabio Mozine: Em Cd já saiu, pode ser encontrado comigo. O vinil assim que voltarmos dos EUA, se não formos presos, vou trazer vários.
Para adquirir este novo álbum em CD, além de outros produtos da banda através da Läjä Records, clique aqui ou através do email lajarex@uol.com.br.

Confiram abaixo o vídeo clipe de “Choripan“, faixa que fará parte do novo álbum do Merda. A direção do vídeo ficou a cargo de Lucas Bonini e Raphael Araújo, produção por Alexandre Brunoro em parceria com Garupa Filmes e Camarão Filmes:

ENTREVISTA COM A BANDA THE SALAD MAKER


Aproveitamos a véspera do lançamento do novo clipe do The Salad Maker para bater um papo com a banda sobre a experiência em Londres, o  retorno pro Brasil, o disco “Only Music Now!” , identidade musical, projetos para 2012 e é claro, sobre o a produção do vídeo clipe ““Between Dreams”, que estréia amanhã aqui no Monophono. Confiram abaixo:

1- Monophono: A banda residiu em Londres durante dois anos. Neste período quais foram os principais acontecimentos que contribuíram para o amadurecimento da banda, assim como no processo de criação das músicas?
Vanzella:
Acredito que todas as experiências passadas lá foram determinantes para o amadurecimento da banda. Desde solidão, que fez com que surgissem músicas como “One Night Girls“, até a convivência com uma cultura distinta que faz você pensar em coisas diferentes, o que fez surgir a música “Pax“.

2- Monophono: Como foi o processo de transição EUROPA | BRASIL em relação a casas de shows, estrutura e público? Houve uma resposta positiva quanto a isso?
Vanzella:
Qualquer mudança tem ganhos e perdas, por um lado você perde em quantidade e qualidade das casas, mas ganha em relação a contatos e oportunidades. Afinal de contas foram quase dois anos de banda em Londres, e são mais de 15 anos de música no Brasil entre projetos antigos e The Salad Maker.

3- Monophono: Em 2011 o The Salad Maker lançou o album “Only Music Now!” Via Pisces Records. Como tem sido a divulgação e a recepção do público tanto na internet quanto nas cidades por onde a banda passa?
Romano: Tem sido ótima. O Álbum foi a maior representação que nós obtivemos como banda até agora e temos a certeza com a recepção de cada local que passamos em 2011, que o trabalho está muito bem feito. Conseguimos até nosso primeiro fã clube, o @TSM_Brasilia que foi originado após um festival que participamos em Dezembro naquela cidade.

4- Monophono: Uma prática comum entre os músicos do TSM era se apresentar nas ruas de Londres, divulgando seu trabalho e ainda ganhando algum dinheiro por isso. Essa experiência já rolou aqui no Brasil? Se sim, qual a diferença entre a reação das pessoas?
Vanzella: Nunca fizemos algo assim no Brasil. Em Londres eu fazia por estar cansado de não ter banda, de estar sozinho. Eu comecei a fazer isso pra treinar, não podia tocar em casa, pois os flat mates não gostavam, a vizinhança não gostava. Deu certo e continuei, depois comecei com o TSM e aí comecei a vender os CDs enquanto eu tocava, mas não com a intenção de promover, apenas fazer uma grana a mais. Com relação ao Brasil, ainda não rolou a necessidade, mas nunca se sabe.

5- Monophono: É possível perceber uma preocupação da banda com a sua identidade, seja através do site, dos vídeos, da produção diferenciada nas artes do álbum, etc. Como a banda administra isso e qual a importância de se ter uma identidade diferenciada?
Romano: Diferenciada eu acho que não. Na verdade, esta identidade nada mais é que uma mescla de um pouco de cada personalidade de nós. Um exemplo, o Pandorf tem uma marca de roupas, a Elephant, então nós unimos esta habilidade/facilidade de ele mexer com tecidos e criamos as capinhas inéditas até então. Outro exemplo é o nosso circulo de amizades, que em sua maioria são publicitários, músicos, designers que nos ajudam e nos influenciam muito nas escolhas das ações visuais da banda. Por fim acredito que tudo o que uma banda mostra vem um pouco da onde ela convive.

6- Monophono: Segundo uma afirmação do vocalista Renato Vanzella, a banda deve funcionar como uma empresa. Como são divididos os setores desta empresa? Quem é responsável por cada setor e qual o dia a dia de trabalho?
Vanzella: A gente se organiza da forma que dá, cada um cuida de alguma coisa de acordo com sua característica, dom e tempo. Todo trabalho da banda é diário. Sempre nos preocupamos com a comunicação com o público, comunicação com as mídias, desenvolvimento de novas ideias, produção do show, venda de shows, avaliação de resultados e financeiro.

7- Monophono: Existe um tabu por parte do público em relação a bandas brasileiras que se consagraram cantando em inglês e que em algum momento da carreira resolveram produzir músicas em português, como aconteceu com as bandas Hatten, Wry?, Forgotten Boys, entre outras. Vocês tem algum projeto neste sentido?
Romano: Existe tabu com aborto, a camisinha, o ateísmo… Enfim, tantas coisas que se você parar para ouvir todo mundo a sua vida fica trancada em uma dessas gavetas de “tendências” que vemos por ai. É uma coisa que sempre comentamos, a TSM é uma banda livre, então nós pretendemos sim um dia compor em português, espanhol e até em francês. Nós até criamos um estilo próprio para enquadrar nosso som. Chama-se “Free Rock” (rs).

8- Monophono: O site da banda está passando por uma reformulação. Quais serão as novidades que os visitantes encontrarão ao navegar por lá?
Romano:
Encontrarão as infos mais organizadas e o layout mais característico com essa fase que estamos passando. Que é uma fase mais livre e mais amadurecida. Além disso, temos a ideia de deixar o site mais pessoal e menos informativo. Compramos uma câmera recentemente e vamos fazer algumas coisas durante nossas turnês em 2012. Vai ser bacana!

9- Monophono: Além do lançamento do novo site, está previsto para o dia 13 de março o lançamento de um novo vídeo clipe aqui no Monophono, para o single “Between Dreams”, que faz parte do álbum “Only Music Now!”. Comentem sobre a produção, filmagem, idealização e participações deste vídeo clipe conceitual.
Vanzella:
Dois grandes amigos nossos escutaram o “Only Music Now!” e piraram no cd. Eles tiveram uma grande ideia para a o clipe de Between Dreams, nos contaram e topamos logo de cara. Nos viramos para fazer a produção do clipe com amigos, muita boa vontade e criatividade , já que dinheiro não existia. O roteiro é mito forte, inovador, então muitas pessoas nos ajudaram, como é o caso da Liberta Filmes, que “comprou” o projeto e finalizou o clipe por acreditar no trabalho.

10- Monophono: Por fim, quais são os planos da banda para 2012 com relação à divulgação, merchandising, turnê e projetos em geral?
Vanzella: Existem diversos projetos subdivididos em dois planos. Primeiro plano, o clipe deu uma excelente repercussão. Segundo plano, o clipe foi um desastre. Mas com certeza existem alguns projetos que fazem partes dos dois planos, como lançamento de merch tematizado, turnê de lançamento do clipe iniciando dia 25/03 na Casa do Mancha, distribuição digital de todos nossos CDs e mais clipes. Vamos trabalhar pesado esse ano, isso a TSM garante.

LEANDRO (EX-LIFE IS A LIE) LANÇA LIVRO DE ESTRÉIA


Enquanto existiu, o sexteto grindcore paulista Life Is A Lie representou não só uma complexa, brutal e por vezes impenetrável alquimia dos gêneros mais extremos da música sem concorrência no quesito intensidade em qualquer parte do mundo – representou também, via suas letras de altíssimo gabarito, um assalto verbal como poucas vezes se pôde ver na música pesada de nosso país. Pois, se o latente potencial literário tanto de pérolas como “Doença” e “De Pé Entre Ruínas” quanto das ‘liner notes’ que complementavam as letras nos encartes dos CDs do grupo (estas, autênticos exercícios em ficção curta), nos mostravam que a contribuição do vocalista Leandro Márcio Ramos (à época, conhecido como Lord Vicious) poderia – ou melhor, deveria – ultrapassar o meramente musical para desenvolver ainda mais sua verve na literatura de fato. Eis, então, que o projeto experimental Ugra Press, voltado para a arte underground, une forças com o cantor e traz à luz “Tudo Que É Grande Se Constrói Sobre Mágoa”, seu primeiro livro, reunião dos contos publicados por Leandro no blog Dissolve/Coagula (dissolvecoagula.blogspot.com) e mais material inédito, sempre a versar com sobriedade dilacerante sobre impossibilidades amorosas, sociais e profissionais. Fizemos algumas perguntas ao autor, a respeito da obra e, inevitável, também sobre a banda – leia agora.

Monophono: Desde que tomei contato com os textos presentes nos encartes do Life is a Lie, entendi que sua estréia em livro seria iminente… Por que demorou tanto? Questões práticas (grana, busca por editoras, etc) ou artísticas mesmo?

Leandro Márcio Ramos: Escrevo desde a adolescência, com irregularidade caótica, em um monte de cadernos que ficam acumulados nas gavetas das casas onde moro (ou jogados em cima de alguma mesa). Isso muito antes de começar o Life is a Lie, e o hábito se mantém até hoje. Em 2006 criei o Dissolve Coagula, blog que nasceu como uma espécie de continuação online de um zine que editei, o Reflexões de um Anticristo. No blog comecei postando alguns escritos antigos, que tinha mostrado para amigos próximos, e estes me disseram que valia a pena publicá-los de algum modo. Obviamente, sempre pensei em lançar um livro, mas nunca considerei o que tinha em mãos algo minimamente decente: olhava aquilo tudo, esses cadernos sujos e acumulados com poemas e contos ridículos, e tinha vontade de vomitar. Os anos foram melhorando alguns deles, e novos foram surgindo. Talvez isso tenha me impedido de lançar algo antes: essa obsessão em realizar algo que, na minha cabeça, seja aceitável. Para você ter uma idéia, pedi para duas pessoas diferentes revisarem o livro depois que eu mesmo já o tinha revisado e alterado, se não me engano, sete vezes! E em todas elas eu mudei alguma coisa, reescrevi períodos completos, mutilei diversas histórias. Se não tivesse a pressão da Ugra Press para entregar logo o original, eu estaria não respondendo a essa entrevista, mas praguejando sozinho aqui em casa e reescrevendo algum parágrafo pela centésima vez.

Monophono: “Tudo Que é Grande se Constrói Sobre Mágoa”. Esse título lhe veio como forma de unir todos os escritos, ou é sempre um ponto de partida para seu trabalho?

Leandro: Gostaria de eu mesmo ter cunhado essa frase; contudo, ela não é uma criação minha: foi-me dita por uma pessoa que me ensinou muitas coisas sobre magia, satanismo, etc, alguns anos atrás; e trata-se de um dos 21 Mandamentos Satânicos de uma ordem chamada Order of the Nine Angles. Como não concordar com essa frase tão simples e, ao mesmo tempo, tão verdadeira? Ela não apenas une e serve como ponto de partida para meus escritos, mas também une e serve como ponto de partida para explicar 99% da vida! Há quantos exemplos quisermos para comprovar isso. Podemos pensar no mundo antigo, no nascimento de Roma: César passa como um rolo compressor sobre seu amigo Marco Antônio ao voltar da Gália, promovendo uma sanguinária guerra civil – e eis aí, na traição entre velhos amigos, na fome pelo poder e pela glória, o acontecimento capital para o nascimento do Império Romano, base incontestável de todo o mundo ocidental; essa criação que não é apenas a mais destruidora da história, mas também a maior de todas as criações humanas. Não tenho dúvidas: grandes realizações têm como conseqüência lágrimas e sofrimento. Saber lidar com isso é importante para vermos que não vivemos em um mundo cor-de-rosa, mas em uma masmorra, cercados de abominações, de crimes, de doenças e de filhos da puta. Há triunfos que experimentamos nessa trajetória, há festas e amores para nos alegrar; mas, em um exame sem preconceitos da trajetória de qualquer pessoa, é possível ver o momento em que alguém saiu ferido – e é aí, nesse ponto, que o agressor se eleva e sobe mais um degrau, sobre o corpo daquele que fica chorando.

Monophono: Existe algum impacto de ter lançado um livro em 2011, ano raquítico para a arte, no qual os esforços em igual medida concentraram-se (e diluíram-se) em “criar” e “divulgar”?

Leandro: Sinto-me profundamente orgulhoso de ter lançado o livro, ainda mais com o cuidadoso projeto editorial que a Ugra Press idealizou para esse projeto, que engloba desde o convite para o Flávio Grão ilustrar os contos até o acabamento artesanal. Imaginar que cada livro demanda, no mínimo, 40 minutos para ser montado, em um processo que une os talentos minuciosos do Douglas (Alves Jr., da Ugra) em manejar a linha, a prensa, a tesoura e tudo o mais, me faz pensar que a aura antimoderna e a repulsa pelas realizações vulgares e estúpidas de boa parte da cultura contemporânea, que sempre estiveram presentes em meus escritos, também comparecem ao próprio processo de materialização do livro. Espero que as pessoas o recebam assim também.

Monophono: Pergunta clássica: influências literárias. Quais são as suas – as que o fizeram a cabeça no início, e as que fazem sua cabeça hoje.

Leandro: No início, sem dúvida Dostoiésvki. Li “Noites brancas”, uma novelinha dele, bem em um momento crítico da juventude, quando tive minha primeira decepção amorosa. Foi uma desgraça completa, e ler o livro, que comprei em um sebo horrível no centro velho de São Paulo, tornou tudo pior – e ali descobri que a literatura pode ser uma forma de consolo e de conhecimento de si. Logo depois, “Crime e castigo”; e então quis ser Raskolnikóv, falar russo, comer as mulheres russas e depois matar velhas usurárias com um machado (e agora faço a conexão entre o título que dei ao meu livro, discutido mais acima, e minha juvenil paixão pelo tema, de que grandes feitos são banhados em sangue…). Também apreciei muito o estilo árido de Graciliano Ramos, aquela secura vocabular, aquela grosseria e violência que temos no Paulo Honório de “São Bernardo” e no Luís da Silva de “Angústia” (romance tristemente colocado em um segundo escalão, mas cuja estrutura é absolutamente genial, se tivesse sido escrito em inglês seria um clássico). Também li muito Bukowski, muito mesmo… Tive uma fase de adoração por Lúcio Cardoso e sua “Crônica da casa assassinada”, outro brasileiro jogado às favas e que não deve nada aos melhores escritores que abusam de neuroses, fluxos interiores e descrições psicológicas em seus trabalhos. Hoje, ou mais precisamente de uns dois anos para cá, tem me interessado muito a literatura argentina. Então, me dedico a Cortázar e seu fantástico mundo de cronópios e famas, principalmente, mas também gosto do estilo seco e “callejero” de Roberto Arlt (este último é um gigante em construir ambientes pesados e personagens marcantes). Há nomes fora do mundo da literatura que decisivamente me influenciaram/influenciam ao escrever, e que não posso deixar de citar: (o filósofo romeno Emil) Cioran, cujo pensamento fez parte do decisivo processo de desencantamento do mundo em que vivemos na passagem da adolescência para a vida adulta, e que sempre está sendo revisitado, seja em leituras desordenadas, seja em conversas com amigos; (o filósofo italiano) Julius Evola, com seu pessimismo cultural delirante; (o cineasta/quadrinista/escritor chileno Alejandro) Jodorowski, cujas teorias psicomágicas dominaram minha mente por algum tempo… Talvez eu tenha esquecido de muitos outros, minha memória está se tornando uma vergonha. 

Monophono: Existe algum tema que você desenvolvia nas letras do Life is a Lie e que não o faz em textos mais longos (ou vice-versa)? Se sim, por que?

Leandro: Nas letras do Life is a Lie eu buscava, de certo modo, cristalizar visões e sentimentos que sabia (ou intuía, melhor dizendo) como comuns aos demais membros. E pelo próprio formato, era mais uma maneira de expressar quase que minimalisticamente conceitos por vezes muito complexos. Então, as letras eram mais compostas por frases de efeito do que por análises, problematizações ou enredos, possíveis apenas em textos mais longos. Sem nenhum medo de soar pretensioso: se há bandas que, pelas temáticas, podemos considerar como bandas políticas, vejo que o Life is a Lie (e os outros membros concordam comigo) pode ser considerada como uma banda filosófica, no sentido de que os temas que desenvolvemos eram muito mais “problemáticos” e abertos a caminhos variados, não encarnando uma “solução”, mas um anseio extremo por conflito e interiorização. Em textos mais longos, como os que publico no Dissolve Coagula, me permiti sempre ser mais pessoal que nas letras, incluindo muito de situações vividas (obviamente que transmutadas, distorcidas e mescladas pelo artifício literário). Creio que seja nisso, em ter uma dose alta de elementos pessoais, o que mais diferencia as letras dos textos mais longos que estão presentes no blog.

Monophono: No seu blog, você também se dá oportunidade de postar textos opinativos – que podem ser tanto sobre política quanto comentários sobre algum livro ou disco. Nunca lhe interessou desenvolver mais a fundo sua faceta de crítico?

Leandro: Nunca tinha me passado pela cabeça até você me perguntar, hahaha! Mantenho o Dissolve Coagula com esse perfil mais misto (ora textos literários, ora textos opinativos) desde 2009, se não me falha a memória. Com as resenhas sobre livros e discos, tento mostrar aos que seguem o blog um pouco do que tenho apreciado no momento – ou, melhor dizendo, de algum tipo de livro ou disco que de algum modo tenha relação com as coisas que escrevo. Por exemplo, a resenha sobre “A morte de Bunny Munro”, do Nick Cave, figura que foi marcante em minha formação, e cuja problemática relação com questões divinas influencia decisivamente a maneira como trato do assunto em meus textos; ou sobre o novo trabalho do Blood Axis, grupo neofolk que tem um aura antimoderna que está em muito do que escrevo também.  

Monophono: Esse é o segundo lançamento da Ugra Press, depois de um anuário de fanzines lançado em 2010… Você saberia nos dizer se existem planos para lançamento de outros autores? Ou mesmo um segundo livro seu?

Leandro: A Ugra Press, até onde sei, tem planos de investir em novos lançamentos no futuro. Não há, até o momento, nada confirmado; mas as possibilidades estão mais do que abertas. E sim, terá um segundo livro meu pela Ugra Press, que já estou escrevendo – e dessa vez será um romance. Ainda é prematuro dizer qualquer coisa, mas minha ambição é também fazê-lo pela Ugra, e sei que eles têm o interesse de lançar.
 
Monophono: Inevitável perguntar também sobre o LIAL… Depois desses cerca de três anos de encerramento de suas atividades, como você encara hoje o legado do grupo? Com o quê você deixou de ter identificação no mundo musical?

Leandro: Creio que o Life is a Lie teve um papel importante na música extrema nacional, no sentido de construir uma carreira independente, transitando entre várias cenas sem compromisso com modas ou discursos de fácil aceitação. E o que me deixa feliz com nosso legado é ver que não somos lembrados apenas pelo som que tocamos (sempre mesclamos o cru black metal com grind e crust, em anos onde isso não era tão banal quanto hoje, nem muito menos uma fórmula a ser seguida), mas somos lembrados também pela postura e fortes idéias que sempre levantávamos frente a qualquer público: a morte de Deus, os Nove Mandamentos Satânicos, o elogio da violência, o supremo triunfo do Nada perante todas as ideologias de salvação. Nunca foi apenas um som brutal o que nos motivava, mas a possibilidade de ir além em termos de expressão, baseado em um corpo de idéias afrontadoras que não pertenciam a nenhuma cena, mas apenas a nós mesmos. Hoje, o que me anima na música é quando encontro alma, rebeldia, profundidade. Pode ser black metal como o Circle of Ouroboros ou uma tetéia pop como a Chelsea Wolfe, não me importa nada: se nessa música encontro algo cativante para os ouvidos, instigante para o intelecto e agradável para a alma, então eu a ouço. Todo o restante jogo no lixo do esquecimento. Basicamente sempre agi dessa forma, e os anos foram me tornando mais seletivo, mais interessado em criações que superem em complexidade e impacto as anteriores. Nos últimos dias, apenas para exemplificar, tenho ouvido bastante Mater Suspiria Vision e Devil Makes Three, bandas que não tem absolutamente nada a ver uma com a outra, mas que conseguem, em minha opinião, acrescentar algo em seus respectivos estilos. Com o que eu perdi identificação no cenário musical: o ambiente de shows. Não tenho mais paciência. Raramente tem lugar para sentar, é difícil conversar porque o som é muito alto e a confusão de vozes me deixa confuso. Em resumo: prefiro o meu sofá. Ridículo dizer isso, mas no geral todo mundo é ridículo.

Para adquirir o livro “Tudo o que é Grande se Constrói sobre Mágoa” clique aqui.

ENTREVISTA COM A BANDA TEST

O Test é o resultado da união de duas potências do underground brasileiro, o Are You God? e DER. Tanto o guitarrista/vocalista João Kombi quanto o baterista Barata contribuíram bastante para com aquela que tornou-se uma das principais cenas grindcore no mundo, a brasileira dos anos 2000; e, agora em parceria, desenvolvem um trabalho possuidor tanto da liberdade e da veia experimental que caracterizava o AYG? quanto a agressividade e a técnica rítmica do DER – mas desde o inicio já trilhando um caminho próprio, que o torna independente de comparações com uma ou outra. E, como eles ao mesmo tempo lançaram o EP “Carne Humana” e se jogaram para fazer uma mini-tour européia, chamamos o vocalista João para trocar uma idéia rapidinha com a gente. Confiram abaixo:

 1-Monophono:   Com o Are You God? infelizmente não rolou uma tour pela Europa… Essa agora com o Test traz uma sensação de “dever cumprido”?

João: Acho que ainda não, não dá para pensar em dever cumprido… Enquanto existir vontade de fazer as coisas, vamos fazer.

2-Monophono: Quanto tempo vocês ficaram na estrada? Foram quantos shows, e em quais países?  Tocaram somente em squats?

João: A tour começou dia sete de setembro em Goiânia. Foram cinco shows na região de Brasília e  onze na Europa; passamos por Alemanha, Holanda, França, República Tcheca e Áustria. No total ficamos uns vinte e poucos dias fora. E não rolou apenas nos squats – teve som na casa de algumas pessoas e outros em pequenas casas de shows; mas a maior parte foi feita em squats sim.

3-Monophono: Essa turnê já havia sido marcada com antecedência ou vocês resolveram encarar na raça a estrada?

João: Foi na raça para os padrões de lá de fora. Começamos a marcar tudo com menos de dois meses de antecedência – inclusive teve show que foi marcado dois dias antes!

4-Monophono:  Vocês são do tipo de banda que “segura a onda” em uma tour como essa? O que o tempo de estrada ajuda a clarear nessas ocasiões, a indicar o que fazer e o que não fazer, tanto no palco quanto fora dele?

João: Não tem como segurar a onda passando por tantos lugares e conhecendo pessoas diferentes todos os dias, pois dá vontade de aproveitar tudo. Não consigo encarar como “tour de uma banda profissional”, afinal o tempo todo você pensa na sua vida real.

5-Monophono: Qual a sensação de agora ser responsável quase tudo de uma banda ao vivo?

João: Acompanhar  um baterista extraordinário que, tocando sozinho, já seria interessante de ver… Bem, não é tão difícil.

6-Monophono: E como é cantar em português para uma platéia gringa? Saber que canta em uma língua para um povo que não a entende enquanto você não entende a deles?

João: No fim das contas, quer saber? Acho que não faz diferença nenhuma.

7-Monophono: O EP “Carne Humana” saiu em vinil, é isso? É prensagem nacional ou estrangeira?

João: Saiu sim, a Travolta Discos foi quem lançou. Aproveitamos a viagem para prensar na Alemanha e trazer os discos na mão.

ENTREVISTA COM A BANDA BA BOOM

Crédito: Natália Garcia

No último domingo vocês tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais da banda BA BOOM na coluna O QUE ESTA ROLANDO NO MEU IPOD (veja aqui).

Atendendo a pedido deste editor, o musico Buia Kalunga do BA BOOM nos concedeu entrevista falando da história da banda, a batalha para ser reconhecido e os projetos para o futuro.

Confira a entrevista na íntegra.

Monophono: Primeiramente gostaria de agradecer o BA BOOM por ter aceitado o convite do Monophono e nos dar a oportunidade de nossos leitores conhecerem um pouco mais da história e projetos dessa banda aqui do ABC Paulista.

Buia Kalunga: Agradecemos também o convite.

Monophono: Como nasceu o projeto BA BOOM?

Buia Kalunga: A idéia inicial de montar uma banda foi do Cauê, ex-tecladista, junto com seu irmão, o atual baixista Raoni, e o primo, nosso atual batera, Ks. Como a maioria das bandas punk daquela época (final de 90, começo de 2000), a idéia era fazer um som, curtir, expressar as idéias. Aprenderam a tocar a partir daí, com o bom e velho punk rock. Nessa época eu já conhecia os caras, sempre nos trombávamos nos rolês, fomos fazendo amizade. Até que um dia o guitarrista deles, o Átila, saiu, e me chamaram pra entrar, fazendo guitarra e voz. Eu topei, achei que tinha a ver com o que eu queria fazer (nessa época, 2002, já tocavam ska-punk). Aos poucos fomos aprimorando o som, buscando originalidade. A música jamaicana foi ganhando espaço, fomos firmando mais essa idéia. Eu gostava muito (ainda gosto) de música brasileira, principalmente da onda do mangue beat, e levei isso pra banda. Começamos a experimentar algumas coisas nesse sentido e, num dado momento, chamamos uma galera pra fazer junto: teclados, sopros, percussão. Coisas novas pra gente, não sabíamos como lidar com tudo aquilo direito, mas metemos a cara. Era tosco, mas foi nessa época que começamos a aprofundar essa história de Brasil-Jamaica. Chegamos a ter 11 integrantes. Depois reduzimos, Cauê foi pro teclado, eu pra percussa, Ivan no sax/escaleta, Allan na guitarra, Raoni no baixo e Ks na batera. Com essa formação, gravamos um EP em 2009, um pouco mais maduro, mas ainda amador. Apesar de não ser um material de primeira, esse EP foi importante pra firmar nossa identidade, e a partir daí fomos lapidando mais o som, agregando pessoas, melhorando os arranjos. Saíram Cauê e Ivan, chegaram Bira e Guaru na percussa, Kiko, Bio e Fão nos sopros, Feijão recentemente chegou no teclado, e aqui estamos. Ba-boom!

Monophono: Nesses mais de 10 anos de estrada, a partir de que momento o BA BOOM deixou de ser uma simples banda de garagem para se tornar o que é hoje?

Buia Kalunga: Não sei se houve esse ponto de virada, sinto que as coisas vêm acontecendo gradativamente. Talvez porque eu esteja dentro, não consiga visualizar, mas a nossa caminhada continua a mesma, continuamos ensaiando no mesmo lugar, as mesmas tretas com vizinhos, isso não mudou (risos). Mas sem dúvida nosso comprometimento é maior hoje, organização, seriedade, envolvimento. Somos o que fazemos, e se estamos aqui hoje é porque estamos nos movimentando pra isso.

Confira o video comemorativo dos 10 anos do BA BOOM.

Monophono: Sabemos que o BA BOOM começou como uma banda de Ska e hoje conseguiu criar um som bastante próprio flertando com outros ritmos, desde o samba até o jazz. Como acontece essa mistura no processo de composição das musicas e versões?

Buia Kalaunga: Isso aí começou com muita ousadia, botamos na panela tudo o que achávamos legal pra ver no que dava (risos). Com o tempo, fomos tirando o que sobrava, e criando uma identidade mais firme. Hoje temos a música jamaicana como nosso alicerce, e a partir daí brincamos com outros elementos, principalmente brasileiros.

Monophono: Conheço alguns músicos do BA BOOM há muitos anos, desde uma época em que tocávamos juntos em festivais escolares e em rodas de amigos. Hoje o que notamos ao ouvir BA BOOM é musica de primeira qualidade e com técnica apurada de quem sabe o que esta fazendo. Como aconteceu essa evolução técnica?

Buia Kalunga: Ainda está acontecendo, e espero que continue sempre, temos muito que aprender. Pra muitos da banda, a música começou como brincadeira mesmo, e foi tomando outras proporções à medida que o interesse pela coisa foi crescendo, uns mais, outros menos. Nos propusemos a fazer um tipo de música que exige um mínimo de conhecimento e técnica, e perceber isso já tem sido um grande avanço. Cada um tem um envolvimento com o lance, temos diferentes níveis técnicos na banda, mas estamos exigindo cada vez mais de nós mesmos.

Monophono: BA BOOM começou em uma época em que o único meio de divulgação de shows que tínhamos era o “boca a boca” e a panfletagem. Gravávamos demos em fita cassete que chegavam à outros Estados através do correio! Hoje as bandas independentes têm a disposição diversos formatos de mídia para divulgação de seu trabalho, sobretudo na internet. Como é ser uma banda independente no Brasil hoje?

Buia Kalunga: É, velhos tempos (risos). Hoje, nessa “era digital”, muita coisa facilitou pras bandas, isso é muito bom. É mais fácil gravar, divulgar, fazer contatos. A internet é um “lugar” em que a lei, o policiamento e o controle estatal ainda não chegou com o peso que tem no mundo “real”, então ainda temos muito espaço pra ocupar, por nós mesmos, pra nós. Mas ainda é difícil ser independente. Como o volume de informação hoje é maior, as bandas também têm que entrar nessa se quiserem espaço. Gerar conteúdo o tempo todo, ter canais de comunicação (site, redes sociais), assessoria de imprensa, produção, uma pá de coisa. Antigamente precisávamos de menos… hoje, facilitou o acesso às ferramentas, mas o nosso trabalho aumentou, e continuamos fazendo todo o corre sozinhos.

Monophono: O que falta ainda no Brasil em termos de incentivo à cultura e à trabalhos como o do BA BOOM?

Buia Kalunga:Falta reconhecimento das instituições e das casas. Tem muito dono de casa ganhando dinheiro fácil por aí, chamando as bandas pra tocar por uma mixaria, com estrutura tosca. E mais, querem que a banda faça todo o corre da divulgação, de trazer o público pra casa. Isso era assim há 10 anos, e lamentavelmente pouca coisa mudou. Acho que falta a consciência, tanto dos músicos como dos donos das casas, de que somos trabalhadores, que tocar não é oba-oba. A balada é pra quem vai ver a gente tocar, nós estamos lá trabalhando, e merecemos boas condições pra trabalhar, pra oferecer um som firmeza pras pessoas. É osso, porque muitas vezes precisamos de grana e acabamos nos submetendo, mas temos que dobrar os caras na idéia, na postura. Agora, falando de poder público, também tá embaçado (risos). O critério de investimento ainda é o da visibilidade. Então, temos eventos muito bons, gigantescos, como a Virada Cultural por exemplo, onde são investidos milhões, e bomba de gente, repercussão tremenda na mídia. Mas, e depois, o que é que sobra? Só o osso… falta continuidade desse tipo de ação. Entre outras coisas, precisaria de mais umas duas páginas pra discorrer sobre…

Monphono: Neste cenário, como nasceu a Jangada Cultural e qual foi o seu papel neste momento que o BA BOOM esta vivendo?

Buia Kalunga: De uns tempos pra cá, temos contado com a ajuda de um produtor e amigo nosso de longa data, o Alan Silva. Esse cara tem sido fundamental pro Ba-boom, somos muito agradecidos a ele. A Jangada é uma iniciativa dele, juntamente com o Fão (trombone) e Raoni (baixo). É uma produtora cultural, usada pros trampos pessoais de cada um, e também pro Ba-boom. Achamos que era importante ter um apoio jurídico pra essa caminhada, e que isso não fosse feito por terceiros. Gostamos da idéia de ser independentes. Pra muitos esquemas que estamos fazendo aí pra tocar, precisamos lidar com certas burocracias, e a Jangada vem cumprindo esse papel. Além de outros, como a produção do clipe, design, etc.

Monophono: O vídeo clipe de “Amizade Prevalece” foi gravado em vários pontos do ABC Paulista que fazem parte da história de vocês. Gostaria que você nos contasse como foi o processo de criação do vídeo.

Buia Kalunga: Foi trabalhoso, nunca tínhamos feito isso antes. Contamos com ajuda de parceiros, principalmente do André (Iso 25), sem palavras pra força que ele deu, somos imensamente agradecidos. A letra da música é bem cotidiana, sincera, real. Por falar de amizade e do ABC, sentimos que essa música tinha um grande potencial, que uma galera se identificaria com ela. Então partimos desse princípio, mostrar a rapazeada, o rolê, lugares que freqüentamos, lugares típicos do ABC. Tudo ali é muito familiar pra nós, e muitas coisas são simbólicas pra quem conhece a região, como o trem, trólebus, a petroquímica. ABC é figura carimbada quando falamos da indústria, da história do movimento operário no Brasil, mas, cultural e artisticamente, é uma região que ainda está formando sua identidade. E temos um potencial enorme, rola muita coisa boa por aqui. Talvez esse clipe, essa música, seja uma pequena contribuição do Ba-boom nesse sentido, de mostrar uma outra cara do ABC pro mundo.

Confira o video clipe de AMIZADE PREVALECE.

Monophono: E como surgiu a oportunidade de entrar na programação da MTV?

Buia Kalunga: Batemos lá na porta deles e mostramos o material. Com muita insistência e apoio da galera que nos acompanha, rolou.

Monophono: Sabemos que o BA BOOM é uma banda que sempre esteve envolvida em projetos sociais no ABC, sempre demonstrando uma preocupação em dar voz às minorias. Como o BA BOOM vê a musica como instrumento de transformação da sociedade?

Buia Kalunga: Não vemos a música como instrumento de transformação social, não exatamente. A música pode acompanhar as transformações, instigá-las, dar voz a algumas questões, mas não é ela que vai transformar, de fato. Uma pessoa que ouve nosso som pode de repente despertar pra algumas coisas, isso é um poder que a música tem, mas, daí pra frente, é outra fita. O que transforma a sociedade é a ação organizada, a construção, o enfrentamento, historicamente tem sido assim. Nosso lance é a música, essa é a nossa missão, somos uma banda. Alguns de nós participam da movimentação política/cultural do ABC, e o Ba-boom acaba naturalmente se envolvendo, mas não somos um grupo político, até porque dentro da banda temos diferentes formações, opiniões. Falamos do cotidiano, da rua, da vida, por isso falamos de questões sociais… é o que estamos vendo, vivendo.

Monophono: Para finalizar. O BA BOOM esta em estúdio produzindo o novo trabalho da banda. O que os fãs da banda podem esperar do próximo CD?

Buia Kalunga: Ah, esse aí ta vindo quente. Tem boas composições, e o trabalho do Sofiatti ta sendo muito bem feito em cima delas. O clima das gravações ta bacana, muito tesão em cada dia de estúdio, satisfação demais. Muito aprendizado também, dedicação, tudo sendo feito com atenção, carinho… enfim, um momento especial, sem dúvida. O resultado nem nós sabemos ainda, porque o processo é lento mesmo… mas o barato ta ficando loko!

Confira CANÇÃO GUERREIRA, musica que também esta recem lançado Single do BA BOOM.

Monophono: Mais uma vez agradeço a entrevista concedida ao blog e o Monophono sempre estará a disposição do BA BOOM para divulgação de novos trabalhos e shows.

Buia Kalunga: Valeu Dudu, satisfação em saber que parceiros das antigas estão antenados aí na cena. Parabéns pelo trabalho de vocês, iniciativas como essa são fundamentais pra dar voz ao que vem rolando aqui no ABC, e em outras quebradas. Temos que fazer por nós mesmos, sempre foi assim, e continua sendo. Vamo que vamo!

Você pode conferir mais do trabalho dos caras na fanpage do facebook, perfil do twitter e canal no youtube.

Fotos por Natália Garcia (banda),  Raoni Gruber (Buia) e Monica MC (banda preto e branco).

ENTREVISTA COM O MÚSICO E ESCRITOR CARLOS LOPES – PARTE 2

Entrevista com o músico e escritor Carlos Lopes – Parte 2. Para conferir a primeira parte desta entrevista, clique aqui.

5.Monophono: Como você tem visto coletivamente esse ano de 2011, tanto do ponto espiritual quando do ponto artístico (que tenho considerado crítico por sua quase que total anemia)?

Lopes: Fui jornalista musical por mais de uma década; mas, há algum tempo, percebi que essa não era mais a minha. Sempre amei ler e, nos últimos anos, minha paixão pela cultura e literatura daqui do Brasil cresceu exponencialmente ao meu desejo de passar uma borracha em praticamente tudo o que eu havia feito antes, como jornalista e artista, em duas décadas. Minhas mudanças, ou “despertares” pessoais, vêm ocorrendo desde 1985 mais claramente, e se desenrolado em ciclos de mais ou menos 10 anos (às vezes um pouco mais ou menos, mas sempre nessa lógica matemática). Já morri e renasci em vida algumas vezes, mas, entre 2010 e 2011 algo muito poderoso ocorreu: uma força motriz inconsciente que me transformou demais, um renascimento unido a um grande desapego. Uma coisa ficou clara durante esse processo de autoconhecimento: eu deveria continuar contribuindo com minhas músicas e escritos. Tive várias intuições do que deveria fazer; às vezes fui guiado a essas respostas, e em outras simplesmente observei o mundo à minha volta e intuí o que deveria fazer. Pessoas foram “postas” em meu caminho e eu no delas (escolhas nossas, escolhas deles, escolhas de “alguém”). Em 6 meses, desenvolvi ideias, projetos e os vi sendo materializados, como se tivesse encontrado (ou reeencontrado) uma direção que me satisfizesse. Além do livro sobre as sincronicidades, um projeto que tenho muito carinho, que será lançado em novembro de 2011, é o História Cantada, uma série de livros, shows, CDs e DVDs que ensina a história do Brasil através de textos satíricos e composições com ritmos diversos como samba, frevo, baião, repente, rock e etc. A História Cantada debate as formas de governo (Império, República Velha, Ditadura, Democracia), fala sobre a construção da cidadania (relação governo-população) e reflete sobre as nossas várias crises sociais e institucionais. O primeiro lançamento será um livro com um CD encartado chamado “A Revolução dos Cães Contra o Imperador Soneca”, que conta (ou recanta, em canções) a guerra do Paraguai, a libertação dos escravos, a queda do Império e os dois primeiros governos da República – ambos militares.

6. Monophono: Aproveitando a deixa, nos diga a quantas anda seus projetos musicais no momento – pelo visto, o História Cantada parece ser a prioridade de agora, não?

Lopes: Acabei de gravar 20 composições para o CD desse projeto, o História Cantada. Compus a maior parte dos temas durante 2010, antes mesmo de saber que seriam utilizados nesse CD. Escolhi as composições que tinham mais a ver e mudei as letras. Durante o período no qual preferi observar a agir, não ouvi música alguma e compus naturalmente, sem pressa ou pressão. O resultado não é inusitado: é um prosseguimento e maturação do caminho musical que escolhi há uma década. Ou seja, durante os últimos dez anos, vivi em meu próprio laboratório, acertando, errando e aprendendo muito. Caí, me ergui, caí, me ergui. Ouvi críticas e elogios, mas a decisão final foi minha, uma decisão baseada em um objetivo, desenhado lá atrás.

7.Monophono: Qual a sua vivência com o rock hoje em dia? É uma relação conflituosa, ou pode-se dizer que inexistem traumas nesse seu processo com o estilo?

Lopes: Sua pergunta é engraçada… Não tenho trauma algum em relação ao rock, ele só me está esgotado, já deu. Me diga: por que se chupa uma laranja chupada? Na verdade, o rock me deu a estrutura para começar, ou pelo menos me forneceu as ferramentas básicas para entrar na sociedade. Você precisa de um código, uma máscara social, um passe, para entrar no clube dos encarnados, e escolhi o rock. Rebeldia, sabe? Mas paralelamente, fenômenos inexplicáveis ocorriam, tantos que eu não dava a devida atenção. E com o tempo, os fenômenos começaram a puxar meu pé na cama, para que eu decidisse o que era mais importante. O que quero dizer é que cada “ferramenta” deve ser usada enquanto ela é útil e isso não tem nada a ver com oportunismo, mas sim com compreensão e entendimento de que tudo tem começo, meio e fim. Com o tempo, percebi claramente que a revolta que me fez entrar no rock era mais uma desculpa para minha inadequação social. Descobri com a convivência que, em todos os estilos, há sexólatras, ególatras, alcóolatras e adictos, inclusive no mundo do samba, por exemplo. O estilo de música não te faz pior ou melhor (e é claro que, se você opta em ser um skinhead neonazista, aí o rock apenas serviu de desculpa). Convenhamos que aquilo que o rock significou para a geração dos anos 50 até, digamos, os 80, não tem nada a ver com o rock de hoje, um estilo, um novo sanduíche com nome em inglês, um clipe exibido em canais com nomes em inglês, que promovem a cultura estrangeira, que se infiltra como peçonha nos corações e mentes. O rock, que foi o grande catalisador das mudanças, já não existe mais – para além das paixões, esse é um fato histórico. E o público de rock é essencialmente branco e há muito preconceito: lembro bem das pessoas que me viravam a cara quando eu falava que o Led Zeppelin e o Grand Funk Railroad tinham influência de funk e soul, uma coisa tão óbvia! Se existe samba-rock, para que excluir as possibilidades? O rock me cansou um pouco, mas o que ele me ensinou é eterno: o manancial de sensações que se expandem através dos tocadores de pífanos de Caruaru, um terreiro de umbanda, um baião e um ensaio de escola de samba. No meu livro, “O Segredo J”, reproduzo as palavras de Mick Jagger a Raul Seixas, ditas no Brasil em 1968, quando ele viu que o baiano só queria saber de “rock”: “Man, você deveria tocar candomblé, esse é o barato. Cante macumba, isso faz sentido, tem a mesma essência do rock e essa é a música de vocês”. Faço minhas, as palavras do jovem, e sabido, Mick Jagger, que saiu daqui com “Sympathy for the Devil” na cabeça. Menos mal.

8.Monophono: Quais são as suas maiores preocupações hoje, enquanto ser humano e artista? Elas se diferenciam?

Lopes: Contribuir como pensador e artista com a educação do meu país, e contribuir com a educação espiritual. Não há mais separações ou subdivisões em mim: todas as entidades estão em um corpo só, o objetivo é o mesmo, não há crises ou falta de foco – há uma completude profissional e pessoal, que se basta. As conseqüências e os resultados nascem dessas escolhas, que são livres e conscientes.

Conheça mais sobre o trabalho de Carlos Lopes nos links abaixo:

http://www.oficinadelivros.com.br/default.aspx?pagegrid=pages&pagecode=86
www.sincronicidademagica.wordpress.com
http://historiacantada.wordpress.com/
http://www.omartelo.com/
http://www.portalcarloslopes.com.br/

ENTREVISTA COM O MÚSICO E ESCRITOR CARLOS LOPES – PARTE 1


Ao ouvir o nome de Carlos Lopes, sua associação imediata será certamente o Dorsal Atlântica – trio seminal e de vulto indiscutível na história do metal brasileiro (e da música nacional como um todo, porquê não?) o qual fundou no início dos anos 80 e sempre se manteve como a força criativa. Mas, quando este passou a não mais satisfazer a ampla inquietude artística do guitarrista/vocalista, fez-se a vez de explorar outras frentes, tanto na música (com projetos como o Mustang e o Usina Le Blond) quanto na escrita, através do jornalismo (o site O Martelo, o qual edita) e da literatura (primeiramente com a biografia do Dorsal, depois com “O Segredo J”). E é sobre este último tema, em especial, mas também sobre outros assuntos (dos quais ele nunca se furta a falar), a entrevista que fizemos com Lopes: seu novo livro, “Mágica Vida Mágica”, acaba de sair, e versa sobre o algo mais inerente aos acontecimentos da vida que encaramos como simples “coincidências”. Com a palavra, o autor.

1.Monophono: Conte-nos um pouco sobre o livro “Mágica Vida Mágica”.

Lopes: Quando não se gosta mais do que se faz, é preciso rever as prioridades. Após uma série de crises pessoais e profissionais, dei um tempo para mim mesmo, sem fazer shows por mais de um ano. Parei, sentei e observei o mundo do lado de fora. Ao fazer isso, confiei plenamente nas intuições e sincronicidades que educadamente, e às vezes me dando empurrões, me guiaram à uma compreensão maior. Para o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, a sincronicidade é uma “coincidência significativa”, que te “dá” respostas para todas as questões, que te mostra qual é o caminho a seguir ou o que mais tem a ver com sua encarnação e objetivos. Após várias “coincidências”, tive um encontro inesperado com o parapsicólogo Waldo Vieira, em Foz de Iguaçu, no ano de 2009, que me aconselhou a escrever um livro. A questão não era o livro em si, mas que fosse algo diferente, como um depoimento, cujo conteúdo refletisse a mudança que ocorria comigo. Intuí que deveria escrever sobre todas as coincidências fascinantes que me amparam em todos os momentos, símbolos dessa nova vida. O livro explica como utilizo as sincronicidades para me dar sustentação psicológica e amorosa, como elas me trazem uma sensação completa de harmonia, de aceitação dos altos e baixos, e de como funcionam as conexões externas e internas, os processos de crescimento pessoal e coletivo. Por isso, o título do livro conta com a palavra “mágica” – pois a vida de todos pode ser mágica, basta saber ver e ouvir.

2.Monophono: Em “Lord Jim”, o escritor Joseph Conrad descreve o fim como “o exorcismo que escorraça da casa da vida a sombra errante do destino”. Sincronicidade é uma ideia correlata a destino? Ou é algo contrário, pois não-determinado?

Lopes: A resposta mais natural seria dizer que sincronicidade é a mesma coisa que destino, que trata-se de um fato concreto; mas aí eu descartaria o imponderável, um fato “desconcreto”, e a injustiça seria ainda maior. Prefiro comprar Deus, o destino ou as sincronicidades à mecânica quântica. O destino estaria mais ligado à mecânica clássica e o imponderável à quântica, pela qual é impossível se atribuir ao mesmo tempo uma posição e um momentum exatos a uma partícula. O movimento de partículas em mecânica quântica é descrito não como trajetória (o destino), mas por meio de uma função de onda, que é uma função da posição da partícula e do tempo, uma probabilidade de encontrar a partícula em determinada posição e em determinado tempo, segundo Max Born. Porém, minha experiência pessoal (que não exclui outras possibilidades) mostra que todas as minhas escolhas “certas” ou “erradas” obedeceram a um planejamento inconsciente prévio que incluía fatos históricos, kármicos, e milhares de outras pessoas espalhadas pelo mundo.

3.Monophono: Como funcionam os lançamentos dos livros? Você mesmo corre atrás de tudo, ou uma editora te dá uma força?

Lopes: Em 2011, a editora carioca Oficina de Livros, especializada em lançar edições sob demanda, me fez uma proposta de lançar dois dos meus últimos trabalhos: o livro de sincronicidades e o meu novo projeto, esse de cunho educacional, o História Cantada, no qual reconto a história do Brasil através de livros e canções. Como o convite da editora veio agregado a várias sincronicidades ocorridas paralelamente, me senti confortável o suficiente para aceitá-lo, pois pessoalmente gosto de todos na editora e sei que posso contribuir com minha arte e vida para que todos possamos crescer juntos.

4.Monophono: Você encara sua obra como uma constante autobiografia? Qual seria a fronteira entre a ficcionalização e captação do real, se é que existe uma?

Lopes: Na verdade, sim. Minha obra musical e literária é um processo continuado de análise, terapia, de autointerpretação. Ninguém é obrigado a concordar com tudo ou discordar de tudo; cada um é um universo e eu não imponho a minha verdade, pois não há uma verdade, há miríades de possibilidades. Através do meu coração, agrego aqueles que tenham, ou acreditem ter, um caminho semelhante ao meu. Tenho o direito e o dever de descrever o que ocorre comigo, e nesse momento da “transcrição”, a realidade se torna arte. O resto são interpretações. Sobre essa fronteira entre o real e a ficção, cada autor possui a sua técnica de mesclar os dois universos, mas no meu caso, em “Mágica Vida Mágica” não há qualquer ficcionalização: tudo o que descrevo ocorreu exatamente como ali está. Na verdade, eu poupei os leitores dos detalhes mais sórdidos e preferi dar início à descrição dos fatos mágicos em minha vida, através de um livro de 120 páginas. Não dizem que a realidade pode ser mais fantástica do que a fantasia? No meu caso, é.

 Continua…


ENTREVISTA COM A BANDA LOBOTOMIA

O veterano quarteto hardcore/crossover Lobotomia meteu as caras em uma tour européia que rolou nos meses de julho e agosto passados. Durante cerca de um mês e meio passados na estrada, percorreram países como França, Itália, República Tcheca, Alemanha, Holanda, Hungria e Suíça. O Monophono foi trocar uma idéia rápida com o guitarrista Spock, para saber um pouco mais do lado B dessa tour pelo Velho Mundo:

1.Monophono: Quais são os pontos MENOS gratificantes de uma turnê longa como essa que vocês fizeram?

Spock: Cara, 43 dias de tour, longe dos amigos, familiares, com outro tipo de alimentação, e, no meu caso, sem tatuar (eu, que trampo com isso), dá uma cansada no final. Mas não tira de forma alguma o valor do rolê!

2.Monophono: Qual era a estrutura do Lobotomia para as viagens? Foram de van? Em relação a backline e equipamentos, o que foi necessário levar daqui?

Spock:Alugamos uma van já com backline e motorista, contato que o pessoal da banda tem das antigas. Levamos de São Paulo somente a guitarra, o baixo e, da bateria, pratos, pedal e caixa.

3.Monophono: Como se gasta o tempo até chegar a hora dos shows? Vocês passeavam, curtiam um tédio, tentavam trocar uma idéia com quem estivesse por perto, como era?

Spock: Nos shows que acontecem um dia após o outro não dá muito tempo para rolês, não. Muita correria… Pois, normalmente, de uma gig pra outra encarávamos quatro horas e pouco de viagem, algumas mais curtas e outras mais longas; ai curtíamos mesmo já no pico onde seria o concerto. Mas rolavam os day-offs – e, nesses dias sem tocar, dá para sair, conhecer os lugares, tomar umas e trombar gente nova também! Sempre surgia um pessoal disposto a mostrar os rolês pra gente, etc. Se estivéssemos no pique sempre íamos fazer os rolês com eles, trocar idéias, e tal.

4.Monophono: Como se manter em giros assim? Gastos com alimentação, estadia, etc., eram por conta da banda, ou o organizador sempre dava uma força?

Spock: O Lobotomia pagava diariamente a van e o backline alugado, e bancava a gasolina do carro também. Normalmente os organizadores forneciam lugar para dormir, cervejas, e um rango antes dos shows. Nos day-offs, café da manhã, taxas de estacionamentos, vistos (como o que tiramos para entrar na Sérvia) e coisas assim, a gente mesmo bancava. A parada é bruta (risos)! O lance é que vale muito ir até lá, botar pra foder nos shows, e ser reconhecido por cada esforço que fizermos.

5.Monophono: Vocês levaram alguns vinis pra vender por lá? Encontraram gente vendendo vinil do Lobotomia? Como é a procura pelos vinis antigos/novos da banda no mercado europeu?

Spock: Levamos vários vinis, sim. O merchandising vira bem melhor do que aqui no Brasil. O Lobotomia tem vinis lançado na gringa, em países como França, Finlândia e Itália, e isso ajuda… Então, normalmente o pessoal vê o show e, se curte, vai e pega os discos. Temos sempre uma procura um pouco maior pelo ”Nada é Como Parece”, por não tê-lo disponível tão fácil na praça há um bom tempo. Mas lá o pessoal que curte o som da banda pega o vinil que tiver disponível mesmo, normalmente. E agora foi relançado na Finlândia o ”Nada É…”; no fim da tour já tínhamos o álbum na mão – ai deu pra passar para alguns fãs!

6.Monophono: Qual foi o melhor show desse giro, aquele realmente  inesquecível?

Spock:Pô cara, vários… Mas talvez o Play Fast or Don’t na República Tcheca… Todos da banda estavam com muita energia, o público na loucura, e o pico era um fest de dois dias numa antiga base militar! O show foi num galpão, o verdadeiro hangar mesmo! Dormimos num local gigante cheio de camas onde os soldados descansavam… Total Papillon, a fita (risos). Ai é inesquecível, né?

7.Monophono: Você conheceu alguma outra banda que tenha chamado a atenção nessa tour (tendo dividido o palco com vocês ou não)?

Spock:Rolou sim… Só não vou lembrar o nome de todas agora porque estou sem meu caderninho de notas (risos)… Cito duas: Total Terror, punk hardcore com uma grande energia ao vivo, e Idiots Parade, grind!